sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sonhei

Sonhei um sonho sabido que me levou sorrateiro por becos vazios
Alamedas sem cor de minha vida passada mendiga
Sai do breu acompanhado de um pássaro que levou-me voando até o espaço
De lá cantei um mundo inteiro e fiz a terra girar ligeiro
O tempo correu, a morte não veio, cortei pelas estepes e cai em meu reino
Sentado em trono de vento cantei aos quatro lados a música dos tempos
Sorte de mim que não sou mais estrangeiro ou perdido passageiro
Agora minha sina não mais vaga por escassez ou medo
Construo uma nave para viajar pelos momentos, pelas caras, por sujeitos
Dançarei nas sinuosas, nas retas, nos pulos, nos desvios com o peito aberto
Num tubo de luz, com uma vida disposta, com a carne do tato a mostra

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Resposta

Ela respondeu-me pouco num silêncio vitílico
Ela pareceu-me robótica numa paralisia contida
Ela nada ressoou com minha noitícia de encontro
Ela longe deu-me as costas com motivos concretos
Ela ainda mora em algum lugar de minha vida poesia 

A noite

As luzes brilham dentro das casas
Do lado de fora vendo-as permito-me sonhar

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Verdade

É como se conta...

Vi o pai correndo entre as mulheres cantando feito um maluco, rindo, amando, tocando as tetas delas
Vi o filho mais velho observando tudo isso e dando muita risada
Vi o pai fazendo uma casa numa montanha e dela se via o sol nascendo, as árvores crescendo
Vi o filho do meio tranqüiilo, porque podia morar nela
Vi o pai festejando, bebendo umas bebidas de música e palhaçadas
Vi o filho mais novo alviado dando uns rodopios festivos
Gritava, pai ! pai! pai ! Que maravilha !

Todos estes homens: o pai, os filhos com seus sonhos foram jogar bola

Ai, vi ! De estrelas, em estrelas, nas constelações os caminhos da pelota em jogo

Chuta! Na mesma pai, na mesma ! Passa, passa !

Vi o pai comendo uma comida quente e deliciosa e com a boca cheia falando belezas
Vi o filho mais velho matando a fome de uma vida inteira
Vi o pai dedilhando as cordas de um violão feito uma ave de rapina, atacando os acordes feito um raio
Vi o filho do meio certo de que sabia de si mais do que ninguém
Vi o pai no chão da sala dormindo feito um anjo, quase que ele tinha pouca idade
Vi o filho mais novo contemplativo, na suavidade do cuidado sereno

Pai ! Só mais essa ! Toma mais esse trago, e respeita o tempo
Não te preocupa, ou sequer tenhas medo
Nós estamos te vendo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Para a solidão real dos dias cheios

Um buraco conversa comigo todos os dias
Desses que tem fundo mesmo
Daqueles de negro

E o que ele me diz?

Um troço meio de flechada escura que arrepia a idéia e me põe triste alegre
Querendo que minha vista e ouvidos recomecem sempre , mesmo que já tenha eu de tudo tocado
Um choro quase sorriso de solidão do único em mim, bem no meio
Fazendo eco da voz e voltando as minhas histórias no espelho

O buraco parece amigo e sossega mesmo quando escrevo

E ponho palavras para ver o que leio
Porque o mundo é cheio
É tanto som e coisas

A palavra me salva
No mar imenso

Carro, avenida, movimento,gente, momento
Cobrador, cemitério, filmes, bilheterio
Arte, repostas, ansiedades,fingimentos
Solidão, telefone vazio, secretária, desencontro, falta de tempo
Coração querendo, corpo parado, todos a postos para ações de efeito

Sabido o buraco que conversa comigo falas de teatro, falas de alma, falas que surgem e me rasgam o peito

Mãe,pai, estudos, flores, música, amigos velhos, velhas crenças, sopro do belo, risadas
Serás, sossegos, decisões, voltas, ritmos, caretisses, estradas, o pouco caso, a distância
Os meandros, ambições, telas cheias, tecnologias, misturas, casais de todos os tipos, praias

Essa criatura oca chamada fundo me chama é por isso que escrevo

                                                       Samarone Gonçalves

Nova Casa

Para Maria Cristina, Eduardo e Lucca


Nova Casa é um querer novo
Um querer correntoso de ares frescos
De vidas em florescimento

Nova casa ativa o futuro e torna-o presente
É promessa cumprida de tempos jovens
Começos queridos, comoções possíveis
Face a face com novos ventos

Ah! Nova casa és tu minha alma crescendo?
Ah! Nova casa és tu corredores de traços antigos em novo desenho?


Nova casa, Casa, casa minha!


Casa minha alma
Meu espaço de memória, meu espaço de trabalho
Por ti todo o universo olha


Pois ela conforta meus queridos, meus sonhos, minha história


E se a escrevo certo é porque as linhas tortas as acerto em lugar seguro
No meu espaço sagrado, debaixo de meu teto, sob o céu do sonho


Meu recanto, minha casa, meu porto


                                                                     Samarone Gonçalves