sexta-feira, 8 de junho de 2018

Mano

para Marco Gonçalves, meu irmão querido, pelo seu aniversário

Mano de sangue, mano de coração
Somos filhos da mesma mãe do mesmo pai
Quem sabe quem nos deu o chão?
Quem nos deu o ar?


Feitos da matéria vida recortamos o cosmos
Adentramos o etér, viemos a este plano
Chegamos leves soltos feito flocos
Em épocas, em tempos diferentes nos posicionamos


Eu vim primeiro, tu veio adiante
O que importa?
Se o que se vê é que somos andantes


Errantes, reluzentes, dementes, escalofobeficantes


Desde o som de um milongueiro na solidão fria dos pampas
Até as sardinhas das Avencas cá estamos


Num ziguizaguiante curioso destino que nos une
Tu estás onde estou, e estou onde tu estás
Sempre!


Embora nossas vidas não se parecem em quase nada
O mistério dos nossos passos conversam, dialogam, se falam


Acho que cheguei antes apenas para ter a besta honra de ser o primeiro
O que a meu ver só me trouxe desvantagem,
pois tu podes olhar para meus tropeços e decidir: por ai eu não vou, vou por ali !
Para poder, talvez, tu me ver e dizer:


-Ah! Posso ir mais longe, posso ser mais “esperto”


Sim!
Foi por isso


Eu lhe digo:


-Eu estou aqui! Podes ir ! Vai com tudo !


Ah como eu queria ter um irmão mais velho!
Mas meu orgulho de sê-lo é mais que meu desejo


Maninho quando lhe vejo
A matemática incerta da existência parece tão perfeita
Que só penso que a vida é generosa
Em dar para todos nós o Marco Antônio, o toninho, o marquinhos, O Marcão

O meu amado irmão

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O Bem e o Mal e outros poemas

O Bem e o Mal


O mal foi recebido bem
E se sentiu bem
Talvez ele deixasse de ser o mal
Por se sentir bem
Se sentiu tão bem 
Que começou a se sentir mal
Por estar tão bem
Sendo ele o mal

O mal foi recebido bem 
E se sentiu mal
Por terem o recebido bem
Mas começou a se sentir bem
Por ter se sentido mal
Sendo ele o mal

Bem ou mal
O mal foi ele mesmo o tempo todo
E se sentiu bem por isso
O bem viu tudo aquilo
E se sentiu mal
Porque não entendia
O bem do mal

Malquerendo o bem
O mal se sentiu bem
Bem querendo o mal
O bem se sentiu mal

(Poema escrito em maio de 1997)

Samarone Santos Gonçalves



O Não Pode


O Não pode
Se não pudesse tornaria-se sem graça

O Não pode
Pois ele quer o que é dele
E não mede o que é seu

O Sim não pode
Pois não sabe o que sente
Não sabe se sabe
E não sente que sabe

O Não pode
Pois pode sempre experimentar
Soube sempre admirar
Quis ouvir e comunicar

O Sim não pode
Pois sempre pensa no passado
Sempre pensou “Ah! Se eu pudesse!”

Assim Sim e Não
Não são a mesma coisa
São diferentes

O Não responde as perguntas do Sim
Com negativas
E o Sim as do Não com negações

Há uma grande diferença nisso!

O Sim concorda
Com tudo que lhe pedem opinião
O não descorda do que não gosta

O Não gosta de tudo o que é bem gostoso
Por isso mesmo que ele pode

Mas, há uma grande chance do Sim poder!

Se ele concordar em fazer o que não pode ser feito


Escrita em meados de 1998 


Samarone Santos Gonçalves