Algumas palavras são como carinho, outras são verdades, fatos, devoluções, outras ainda desejos, vontades e tem aquelas que são pura intuição, claríssima abertura para pensamentos inesperados. É possível perceber quando algo nunca sentido vem ao coração. Em meios ditos “espirituais” cultivam a palavra transformação, a dizem aos quatro ventos.
Para mim parece enganação das boas, noventa e nove por cento desses discursos, não pelos conceitos, ideias e direções dos mestres, mas porque me parece mesmo que o terreno fértil e sincero para essa condição se dar está apenas no indivíduo, num centro único na pessoa, que não pergunta a ninguém que caminho tomar, que é capaz de algum momento da existência tomar totalmente para si o pulso da suas alegrias, de seus serviços, da consciência aonde precisa crescer, o que precisa curar e o que precisa fazer.
A partir dai fazer algo no mundo, com o mundo, com as pessoas torna-se um grande cenário, espelho, elenco para isso. Uso os aparelhos do teatro como analogia, pois sinto de verdade a vida é como um grande drama ou comédia para ser vivido, encenado. Os dois.
Entendi à muito tempo a trás que não existe impulso transformador sem uma autonomia de um centro irradiador dentro da pessoa, que o mínimo sentido de triangulação com qualquer pessoa, coisa ou conceitos, ou seja ter de olhar para o lado, para um outro para corroborar suas percepções, para decidir onde empreender suas escolhas é sinal de que o núcleo ainda não se formou.
Sem esse núcleo nada prospera completamente. E plenitude tem tudo haver com uma espécie de programa que cada alma guarda para o indivíduo, em cumprir um tipo de senda que leva ao novo, a realizar vivencias que cada vez mais aproximam de uma sensação de completude, de amor por tudo. São as escolhas feitas do ponto único de cada ser, que não precisam contar com ninguém, no sentido dos motivos, para serem realizadas, que realmente devolvem ao ser quem ele é de fato.
Sim, contaremos sempre com uma rede de colaboração, mas não com vinculações que geram dependência ou mesmo subordinação. Sim, não eliminaremos sistemas de organização com lideranças a seguir, mas não seremos mais coadjuvantes de nenhum processo pessoal de desenvolvimento, pois os motivos sempre serão profundamente enraizados num centro irradiador próprio.
E novamente, vejo nessas escolhas, o cenário do mundo, e mundo com suas inúmeras necessidades, como campo de oportunidades e temas para a atuação dessa alma no individuo. Não importa o que se escolha, mas que se escolha de um centro irradiador, daquele ponto mencionado antes, deste núcleo que não tem concessões e contratos com ninguém, com nada, que brilha por si só.
Sabemos de verdade quando fazemos escolhas deste ponto. Isso não é comum, isso é firme, isso é sem dúvida. É preciso acreditar no que vem deste ponto.
Para isso, talvez, acontecer o individuo necessite desmontar uma “tenda”, montada á muito tempo, com diversas bases plantadas em tudo que desvia o olhar para uma segunda coisa, que não é seu desejo pleno. É sempre mais fácil pegar carona, mas não é pleno isso.
Escolher como uma flecha é o único caminho para o ser se sentir completo, e mundo inteiro está ai para sairmos de dentro de nós e servi-lo. Claro que esse sol irradiador na pessoa precisa nascer, precisa ser sentido, precisa brilhar no coração de uma pessoa.
Como se faz isso?
Não é exatamente como, mas o que deve ser feito.
A pessoa deve gerar energia, mover tudo dentro de si, mas principalmente desmontar a tenda. Ser um consigo mesmo, fazer as mínimas escolhas a partir de luz própria.
Essa luz é o único quesito, e se não a sentimos, e é fato de que não a sentimos no geral da vida, precisamos nos devotar a ideia dela, praticar sinceramente ações que nos aproximem disso cada vez mais. Ligar o nosso cabo de alimentação a fonte correta. Essa fonte não está em ninguém, essa fonte é naquilo que é único em cada ser, aquilo que é mais que o ser pequeno da pessoa, mas que é inominável e incapturável em cada um de nós. Aquilo que é mais do que tudo, uma certeza de unidade. Uma ideia de Deus em cada um, um clareza de que somos luz e tudo o mais é um teatro, que hora é muito bom e hora é ruim.
E bem verdade é também que nos damos ao luxo de definhar, de se esvair ou de levar a vida com a barriga, operando num menos, operando na carona quase todo o tempo.
Claro, que pegamos carona o tempo todo, mas se não decidimos, a partir desse centro irradiador, onde precisamos chegar, as coronas são inúteis e pouco frutíferas. Vamos indo por ai, e estar à deriva significa mesmo se tornar presa fácil de uma porção frustrações inúteis.
Ganhar o próprio carro é um mérito conquistado.
O bom é que a dor é o sinal, a alma tem esses mecanismos ao seu dispor. O individuo ou se anestesia, e toca a vida semi-vivo, ou passa a viver com dor, e quando ela é intensa podemos nos atentar para tudo que mora em nosso coração que está ainda desalinhado com o compromisso de plenitude. Dor da alma, que muitas vezes vira física.
Não, não há como se confundir, a dor não tem nada haver com uma ansiedade juvenil, com questionamentos inseguros e suposições, ela move o ser a desmontar a tenda. A ansiedade é pueril, não toca a nada que seja importante, e seu papel é desviante, ludibria o ser a não perceber o que precisa em relação a sua existência, ao seu programa do novo.
Viemos à vida sem dúvida para realmente trilhar as estradas as quais não botamos os pés ainda, do contrário não precisaríamos mais voltar.
O preconceito, os julgamentos são um veneno, é preciso ouvir os impulsos puros, e pré-idéias a respeito, disso ou daquilo, obliteram o ser. É preciso pegar nas mãos os caminhos que o novo nos oferece, pois ali há direções, indicações frescas para onde ir, o que fazer. A cada passo uma vitória, a cada escolha a partir do centro único uma felicidade intima. Assim a estrada se faz e o passo a passo vai se tornando veloz, e dessa rapidez uma pista de decolagem se monta e o ser de rápido passa a voar, voar e voar. Precisamos dar os primeiros passos.
É preciso não poupar esforços nessa direção.