Escrita em 2003
Meu Castelo de Areia desabou
Passou um vento forte e o levou
Desfez tudo, num sopro: a dor
Dentro do castelo um homem corria em círculo atrás do próprio rabo.
Na sala redonda, escura, sem janelas a luz de um lampião.
Correndo, correndo, nada encontrando.
Correndo, correndo, nada se movendo.
Na sala redonda, escura, sem janelas a luz de um lampião.
Correndo, correndo, nada encontrando.
Correndo, correndo, nada se movendo.
Castelo feito de sonhos de grandeza, material ilusório, tijolos de areia.
Nada à volta, nada no tempo!
Parado sempre correndo.
Correndo fugindo, correndo morrendo, correndo caindo.
Voando sem solo, quase sem ar, nada dizendo.
Correndo fugindo, correndo morrendo, correndo caindo.
Voando sem solo, quase sem ar, nada dizendo.
Criando sentimentos, vinho, e pó.
Embriagando-se de pontos de vista, respostas constantes.
Criando paredes imensas da grandeza de areia.
Embriagando-se de pontos de vista, respostas constantes.
Criando paredes imensas da grandeza de areia.
Ah! Grandeza de Areia!
Como eras imensa, farta e bela!
Inteligente, sedenta de grandes esferas, serena na sua paralisia esbelta!
Correndo no teu campeonato
Fui ser o melhor corredor, o maior ator
Devotei-me a ti
Correndo até o mar, correndo para poder te amar
Fiz o que querias
Amando sem fim, a grandeza sem mim
A corrida sendo o meu sustento, da minha vida tudo levou
Fôlego, dinheiro, amor, toda a cor
Fiquei além da terra, além do tempo
Moldando as entregas, movendo-me sem movimento
Finalmente o estandarte da morte soou, sua fatídica melodia.
Estrondo no tempo, terremoto no espaço, um vendaval pestilento.
Desfez o castelo de sonhos de grandeza de um menino piolhento.
Estrondo no tempo, terremoto no espaço, um vendaval pestilento.
Desfez o castelo de sonhos de grandeza de um menino piolhento.
A corrida acabou!
Triste sofrimento, impossível a fala, o eco de qualquer pensamento.
Salvar este agora sem casa, sem teto, só, com seu antigo costume: o frenético movimento.
Só, e agora mais um.
No meio de tudo, no meio do nada, num deserto, num Saara.
Na selva de pedra, procurando por água.
No meio de tudo, no meio do nada, num deserto, num Saara.
Na selva de pedra, procurando por água.
Dentro do pequeno e antigo castelo o pseudo-poder corrompia todo o seu ser.
A corrida corria em torno de si mesma.
Mesmo que parecesse rápida, era abafada, lenta e parada.
Mesmo os mais recônditos lugares do espírito atrelados aos incisivos tentáculos do controle.
Mesmo a verdade dos sábios turvada por uma névoa poeirenta.
Mesmo em movimento nada se movia.
Dançar a dança do castelo é compor uma sorte com riso de morte, com cheiro de estrume, com presságios sem sorte.
Foi o que aconteceu!
Num show ao vivo, uma queda elegante, uma fratura exposta, para engessar-se de morte.
Antes da queda, na casa redonda, no círculo distinto, presenças entravam e saiam.
Ninguém ficava, pois nada parava a corrida!
Quem logo via não suportava a agonia e saia.
Brigada, mal amada ou expulsa.
Ninguém ficava, pois nada parava a corrida!
Quem logo via não suportava a agonia e saia.
Brigada, mal amada ou expulsa.
De tudo valia!Para manter a febre daquela histeria.
Mas o castelo caiu.
O homem se viu.
Tudo veio.
Estrume, sal e pó.
Secura e uma voz com entorse.
Um terremoto quebrando o escroque.
Torcendo tudo bem no meio.
Acabando com aquele festival agourento, com aquela corrida sem sorte.
Secura e uma voz com entorse.
Um terremoto quebrando o escroque.
Torcendo tudo bem no meio.
Acabando com aquele festival agourento, com aquela corrida sem sorte.
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